Michel Oliveira - Diretório Nacional do PSOL
Diego Vitello – Executiva Estadual PSOL RS
O primeiro debate entre os pré-candidatos do PSOL, realizado no Rio de Janeiro, foi bastante positivo. Sobretudo, para o amplo setor que defendeu candidatura própria. Assim, de cara, a candidatura de Plínio e de Babá entraram em cena muito fortalecidas. O local escolhido para o evento não poderia ser mais significativo: a sede o SINDSPREV, um dos sindicatos que constrói o Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (CONCLAT), processo no qual o PSOL atua de forma protagonista por meio de sua militância sindical.
Inúmeros textos circulam no partido após o debate, revelando, em especial, a tônica de grande preocupação por parte dos apoiadores da campanha de Martiniano. Fato que se justifica tendo em vista a falta de entusiasmo que recebeu sua pré-candidatura no interior do PSOL. Vários dos ex-aliados do bloco de Robaina/Martiniano/Heloisa, por exemplo, hoje, apóiam Plínio. Caso do Deputado Gianazzi (SP) e de Milton Temer, no Rio de Janeiro. Também se verifica que, mesmo entre a militância de base de suas correntes, há um grande reconhecimento por Babá e seu papel dos tempos iniciais de enfrentamento para construção do partido. Sobressai, o visível desconforto de Martiniano e de seus apoiadores pela derrota política que sofreram na linha de apoiar Marina, aspecto fundamental, a nosso ver. Piorando a situação, Heloisa Helena, após assinar a carta de lançamento de Martiniano, declarou nos jornais que segue apoiando e torcendo por Marina Silva.
Assim, compreendemos a instabilidade no interior da campanha de Martiniano e os motivos que os levam a tentar polemizar, dessa forma, contra Babá e o camarada Plínio. Incluindo certo grau de despolitização. Além de estimularem entre os militantes de suas correntes inverdades e até calúnias, por exemplo, que a CST se liga à direita fascista na Venezuela, o que não vem acompanhado de qualquer fundamentação e só revela a extrema fragilidade política e ideológica dos que a lançaram. Este tema, vamos abordar em breve em outro texto. Porém, desde já chamamos o mais amplo debate político, com base nos fatos da realidade da luta de classes latino-americana, e não em amálgamas infundados, tão semelhantes aos usados ao longo de décadas pelo estalinismo.
Combate ao PT e defesa do projeto fundacional do PSOL com Marina Silva?!?!
No debate do Rio de Janeiro, Martiniano repetiu o que está em sua carta de lançamento: que a política de apoio à Marina Silva do PV é uma continuidade da linha fundacional do PSOL. Nada mais falso.
Apesar de Roberto Robaina dizer que esse debate já está encerrado, a candidatura de Martiniano faz um balanço altamente positivo das negociações com Marina e, pelo visto, pretende repetir essa “tática” em outros momentos. Esse é o motivo que torna fundamental essa discussão
No primeiro debate, Martiniano chegou a ponto de igualar o processo de ruptura do PT em 2005, com a saída de Marina do PT em 2009. Nada mais fora da realidade.
Em 2005, após o mensalão, estivemos diante de um processo de ruptura de esquerda que fortaleceu o PSOL por meio da entrada de inúmeros parlamentares, figuras públicas, tendências e dirigentes do movimento social. Logicamente, trazendo para o PSOL debates sobre o programa e o estatuto de fundação.
Em 2009, assistimos a saída de Marina e do senador Flavio Arns do PT. Os que romperam em 2005 vieram para o PSOL, os de 2009 foram para o PV e para o PSDB!!! Ou seja, não se tratou de uma nova onda de ruptura de esquerda após o PT ter apoiado Sarney no Senado.
Marina Silva, no PT não era de esquerda. Saiu do Ministério reivindicado a política do governo. Saiu do PT dizendo que não romperia com o governo Lula. Reivindica a política econômica de FHC. Em sua gestão no MMA dividiu o IBAMA a serviço das madeireiras e fez o projeto de concessões florestais para privatizar a Amazônia. Sua campanha é financiada por multinacionais como a Pirelli e por empresas que exploram os povos tradicionais da Amazônia, como a Natura. Como combater Lula, Dilma, e a falsa polarização, com uma candidata assumida de perfil Tucano-Petista?
Entregar nosso patrimônio à Marina Silva na eleição 2010 era contra, totalmente contra o projeto fundacional do PSOL. Era contra o combate implacável ao PT. No entanto, ainda hoje Martiniano justifica essa política que, uma vez aplicada, liquidaria de vez o projeto fundacional do PSOL.
Martiniano e Robaina criticam Plínio pelas declarações de que o governo Lula foi melhor que o de FHC. Sem dúvida, é um debate importante, pois a marca do PSOL foi igualar os irmãos siameses, não existindo mal menor, entre o PT e o PSDB. Esse foi um dos motivos pelos quais criticamos os dirigentes do PSOL que votaram em Lula e nos candidatos petistas no segundo turno de 2006. Pelo mesmo motivo seria injustificável o voto de Luciana
Robaina critica Plínio por não assinar suas matérias nos jornais como Psolista. Sem dúvida esse é outro debate importante. Robaina escreve que não aparecer como PSOLISTA “não é próprio da linha fundacional, que tem como marca afirmar o partido, sua sigla, sua capacidade dirigente” (Resposta de Roberto Robaina a Juliano Medeiros). Mas, nos dois casos, Robaina esquece que sua política, juntamente com Martiniano, foi a de NÃO apresentar o PSOL nas eleições 2010. Era de votar no “
Apoiar Marina, diluir o PSOL no PV, não passa do que Chico de Oliveira classificou de “oportunismo e falta de visão estratégica”. É também resultado da ação de quem não tem vocação para construir um partido de massas com o perfil de fundação do PSOL. A linha foi um desastre que só favoreceu aos nossos adversários, pois só teremos candidato após a Conferência, o que atrapalha nossa política eleitoral.
Vale lembrar que Robaina e Martiniano organizaram um ato com a presença de Heloisa e o delegado Protógenes no Rio de janeiro, onde os materiais de convocação não falavam uma linha contra Lula ou sequer de denúncia do governo.
A pergunta que se impõe ainda é: o que Roberto Robaina e Martiniano dizem da declaração de Heloisa apoiando Marina do PV? Heloisa se dispôs, e isto é o cúmulo de desrespeito às instâncias, a construir o programa de governo de Marina do PV!
Não há como negar que a instabilidade política e ideológica dos líderes desse bloco gera esses fenômenos. Heloisa segue na linha de apoio a Marina, pelos argumentos construídos para justificar essa política no semestre passado. Afirmava-se que a nossa base social se agruparia ao redor do suposto movimento desencadeado por Marina e que não poderíamos nos isolar desse processo. Declarava-se que o maior perigo era a pressão do sectarismo e do propagandismo expresso na política de candidatura própria. E, supostamente, se garantiria nossa independência por meio de nossos candidatos a governador.
Na eleição 2010, o debate central será a Presidência da Republica, ou seja, o projeto nacional que devemos contrapor a Dilma e a Serra. Porém, Robaina o reduzia a uma disputa de estado a estado, ao mesmo tempo em que orientava o apoio nacional ao PV! Ainda mais, Roberto Robaina chegou a escrever que “assim como Heloísa Helena foi a tentativa de quebrar a falsa polarização entre o PT e o PSDB nas eleições 2006, agora Marina Silva terá objetivamente esse papel”. (O panorama do PSOL e a tática eleitoral 2010).
De nossa parte, não aceitamos que exista uma campanha nacional do PSOL paralelamente a uma campanha psolista para Marina/PV em Alagoas ou qualquer outro estado. Seguir apoiando Marina Silva, quando o PSOL terá candidato “não é próprio da linha fundacional, que tem como marca afirmar o partido, sua sigla, sua capacidade dirigente”.
A fundação do PSOL, o combate ao PT e candidatura de Martiniano
Um dos argumentos para a defesa de Martiniano é “desenvolver o trabalho iniciado com a fundação do PSOL” e combater “de forma consequente o PT e Lula”. Nada mais falso.
Quando fundamos o PSOL nosso partido tinha em seu programa e estatuto um claro perfil de classe. Nosso programa de fundação marca firmemente que o PSOL resgata a independência política dos trabalhadores, combate as alianças com os patrões. Nosso estatuto proíbe o financiamento privado das multinacionais.
Esse dois aspectos foram jogados na lata de lixo na campanha de Porto Alegre, dirigida pelo MES. Lá, a companheira Luciana Genro, se aliou ao PV. Pior, recebeu dinheiro da GERDAU, contrariando a posição de todos os demais setores da Executiva Nacional do PSOL. Recebeu dinheiro ainda de outros patrões: a Taurus, a rede Zaffari. Perguntamos se isso é fortalecer o estatuto e programa de fundação do PSOL? Esta é política coerente defendida por Martiniano?
Martiniano defendeu a coligação com o PV
Ainda sobre a campanha gaúcha, Roberto Robaina e a direção do MES incluíram o Ministro da INjustiça do Governo Lula, o Tarso Genro, no programa eleitoral de Porto Alegre! Isso ajuda a combater o governo?
Não cremos que todo ecletismo teórico de Robaina seja capaz de produzir uma resposta satisfatória para essa pergunta. Mas nesse ponto a palavra está com ele, ainda que o silêncio, nesse caso, fosse o melhor, pois, é impossível combater Lula e o PT, ao lado de Tarso Genro. O mesmo Tarso Genro que assumiu a presidência do PT após o mensalão!
Até agora a justificativa para aparecer na TV com um MINISTRO PETISTA é a frágil desculpa de que Tarso Genro é pai de nossa deputada Luciana Genro. No entanto, não há nenhuma obrigação de que o pai ou mãe da candidata apareça nos programas eleitorais. Se o pai de Luciana Genro fosse do PSDB ligado a Yeda, temos certeza de que não apareceria no programa do PSOL de Porto Alegre. Trata-se de uma opção política. Tarso é ainda um dos poucos dirigentes do PT com peso na população e foi levado para favorecer eleitoralmente Luciana por puro cálculo eleitoral. Nessa pragmática decisão não se levou em conta a necessidade de combater implacavelmente o PT e seus dirigentes que iludem e oprimem o povo.
No entanto, o abandono do projeto de fundação e a desistência de combater o PT são mais profundos. Na campanha, Luciana Genro declarou que Tarso Genro do PT, foi “o melhor prefeito que a cidade já teve”, apoiando explicitamente o modo PETISTA de governar.
Do mesmo modo, como combater o PT e Lula votando em suas candidaturas nas presidências da Câmara e do Senado? Martiniano apoiou a linha errada de nossos parlamentares que, ao invés, de se apresentarem como força política independente, votaram nos candidatos do mensalão e dos atos secretos.
“Sectarismo e dogmatismo” na campanha do Babá...?
Roberto Robaina afirma que a campanha de Babá só sairia fortalecida caso não criticasse Martiniano. Caso se afaste da “linha justa” ditada por ele nossa campanha se anularia. Porta-se assim como se fosse o depositário de toda a “sapiência” da esquerda socialista mundial. Talvez por isso o mau hábito de imputar a outros a responsabilidade pelos desastres que comete. Vide caso do “Delegado do Povo”, quem embalado pelo prestígio do PSOL, foi parar no PCdoB, do governo Lula. Aí, sim, a tática, baseada no impressionismo político, se anulou completamente.
Prossegue em seu texto e declara que a CST é “dogmática e sectária”. Dogmatismo e sectarismo por ser contra que o PSOL receba R$ 100 mil da GERDAU! Dogmatismo e sectarismo por ser contra aliança com Marina do PV de Zequinha Sarney, o PV do Serra e do PSDB do Rio! Dogmatismo e sectarismo por ser contra que o PSOL vote
Sectária e dogmática mesmo, além de auto-proclamatória, é a declaração de Robaina de que “Martiniano, aliás, é o único pré-candidato que percebe a importância de Heloisa Helena” (O debate dos pré-candidatos do PSOL). Um absurdo, pois quase todas as correntes do PSOL defenderam que o melhor nome para 2010 era Heloisa. Ela não é candidata por vontade própria. A direção do MES e do MTL são as únicas que justificam que nossa maior figura pública seja candidata ao Senado de Alagoas, fato que diminui o espaço do PSOL nas eleições.
Com Martiniano, o PSOL vota até no PV
Por meio da análise da prática política dos integrantes da candidatura de Martiniano Cavalcante vimos inúmeros exemplos da rendição à pressão lulista e sua alta popularidade. Em inúmeras situações concretas observamos a receita integral de como não combater o PT e o governo Lula. Eles são protagonistas de exemplos do que não se deve fazer em 2010.
O projeto original, de fundação, foi abandonado por esses dirigentes em nome do eleitoralismo mais pragmático. Com eles o rosto do PSOL seria substituído pela cara do PV. A política de fundação é trocada pela máquina de calcular, pela matemática do tempo de TV e do coeficiente eleitoral.
Comprova-se que o perfil fundacional do PSOL e o combate implacável ao PT não combinam com a campanha de Martiniano.
Para desenvolver esse debate é muito importante a participação da militância nos debates entre os três pré-candidatos. As plenárias de eleição de delegados, assim como as conferências estaduais são também altamente apropriados para isso. Desse modo, politizando nossa militância, mobilizando a base do partido poderemos derrotar essa política de liquidação do PSOL. Esse é o caminho para resgatar de verdade o programa fundacional do PSOL, o PSOL das origens.
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